Medo e Coragem


Aos 65 anos, minha mãe, Maria Márcia Freire Monteiro, acaba de lançar um livro em que compartilha algumas passagens de sua vida. E mais uma vez, me fez sentir muito orgulho de ser sua filha. Que belo exemplo de CORAGEM!
CORAGEM de mergulhar de cabeça no desconhecido. Coragem de colocar o seu propósito na frente da autocrítica, das próprias limitações, da opinião dos outros e da necessidade egóica de ser aplaudida. Só por isso já merece ser aplaudida. E tem sido!
CORAGEM de mostrar ao mundo as dores a as delícias de ser quem ela é.
CORAGEM de escutar seu coração e tornar real mais um sonho. Minha mãe sabe que o coração jamais se engana! E que tudo o que temos que fazer é escutá-lo e trabalhar duro para trazer o seu desejo para a realidade. 

Mas e o medo? Ora, o medo faz parte da vida. Da sua vida, da minha vida e da vida da minha mãe. E quanto mais rápido aprendermos que Coragem não é a ausência de medo, mas sim, seguir em frente com medo mesmo, mais desejos realizaremos! 
Me lembro quando entrevistei vários artistas globais, quando eu era repórter, e escutei da boca de um veterano bem famoso: "o dia em que eu deixar de sentir um frio na barriga antes de entrar no palco, eu não estarei sendo verdadeiro, não estarei vivo e minha presença no palco de nada valerá." O Medo faz parte da vida. 

Tenho aprendido que o Medo é um companheiro antigo que existe para nos proteger. Ele sempre nos acompanhou e sempre nos acompanhará. Pode mudar de roupa e se fantasiar de "Medo de Ser Rejeitado"; em outro momento, aparecer vestindo a capa do "Medo de Sentir Vergonha". Mas, no fundo, é o mesmo Medo que está ali com a intenção de nos poupar do sofrimento, porque não quer que nos sintamos envergonhados, frustrados, tristes, rejeitados... e por isso fica "falando" pra gente que é "melhor a gente não se arriscar", que "não vai dar certo", que "e se... ninguém gostar?", "e se... ninguém comprar?", "e se... a morte chegar?". 

Como disse, tudo o que o Medo quer é nos poupar do sofrimento. Cabe a nós agradecer a ele pelo cuidado, ponderar sobre suas bem intencionadas advertências, e posiciona-lo em relação ao seu lugar: ele é apenas um companheiro, não o comandante! Devemos deixar claro para ambas as partes, que somos nós quem faz as escolhas e toma as decisões. 

Saber que ele está ali na melhor das intenções, faz com que possamos acolhe-lo ao invés de lutar contra ele. E isso é muito bom, pois não queremos passar a vida brigando com um companheiro de jornada!
Podemos nos atentarmos para, ao entrarmos na arena do desconhecido, do aprendizado e da criação, tomarmos as precauções necessárias através da preparação, dedicação e da busca por fazer o nosso melhor. Mas que ultrapassaremos os obstáculo do perfeccionismo, do apego e do controle, e entregaremos nas mãos do Universo o resultado final, o impacto e o retorno do nosso trabalho. Afinal, mesmo querendo muito, não temos poder sobre tudo isso. 

Nosso único poder de influência reside no comprometimento em sair da zona de conforto, fazer o melhor que podemos, com as ferramentas que dispomos, no momento em que estivermos: no agora!Não podemos controlar a aceitação do outro. Não podemos ter certeza que seremos um sucesso de bilheteria. Não iremos agradar todo mundo. Isso, como diz o ditado, nem Jesus conseguiu fazer! 

Alem disso, o resultado final de tudo, ou seja, o impacto, se vão gostar ou não do nosso trabalho, não é o mais importante! O destino importa menos do que COMO caminhamos. A vida É o caminho. Portanto o que mais importa é sermos fiéis a nós mesmos e seguirmos os conselhos sábios do nosso coração! Porque cada coração tem uma conexão direta com a sabedoria universal, que por sua vez está ligada com todos os outros corações. Na realidade, quando seguimos o nosso coração estamos seguindo o que é melhor para todos os outros corações! 
Por tudo isso, ultimamente tenho dito a mim mesma: "vai com medo mesmo!" Porque seria insanidade esperar deixar de sentir medo para sair da zona de conforto. Afinal, "sair da zona de conforto" e "Medo" são praticamente sinônimos!

Para finalizar esta minha reflexão, gostaria de deixar aqui o meu Muito Obrigada para minha mãe:

Obrigada por me ensinar a seguir meu coração! Por me dar o exemplo de que não devo deixar de subir no palco da vida quando estiver sentindo frio na barriga. Porque é ali, dando a cara pra bater e sem saber como o público reagirá, que estarei realmente me sentindo viva!

Daniele Freire Monteiro de Carvalho